terça-feira, 21 de julho de 2009

Diário de viagem


*Por Ítalo Luiz Moreira


José Eduardo dos Santos
PARTE II


Na maioria dos contos infantis o pai realmente está ausente, ou em certos momentos ele é o ponto de partida para o surgimento de algum personagem.

1º Cinderela:
O pai fica viúvo, casa, depois morre.

2º Branca de Neve
Ela foge de casa para não morrer na mão do caçador, os sete anões acabam adotando a menina. A história se desenvolve, e o pai está aonde? Fazendo o quê? Eu não sei se ele morreu, ou ficou prisioneiro. Mas a madrasta tem um papel fundamental dentro dessas histórias fazendo o contra ponto, e o príncipe simboliza a esperança de que dias melhores virão.
Partimos para o exercício num jogo de sedução em que os irmãos seduziam a mãe de Chapeuzinho. Nesse jogo rolava uma relação, então vinha a gravidez indesejada de uma adolescente. UMA GRAVIDEZ PRECOCE onde ela acabava ficando solitária, infeliz. Essa mulher ficou amarga pelo fato de ter-se apaixonado. Esses dois canalhas brincavam com os seus sentimentos. Após a gravidez eles abandonam a mulher. Então começava a sua transformação, ela se transformava numa bruxa, fazendo feitiços, rogando pragas a esses irmãos. Ela rogou uma praga nos irmãos, um se tornou num holograma, ou seja, um espírito, “Que vagava pela floresta”.Outro recebera a maldição, se transformou num lobo, fazendo ao mesmo tempo uma alusão ao Drácula, a questão da evolução e a transformação do ser, mas tudo na grande verdade era um sonho vivido por uma adolescente que sonhava em encontrar o rapaz da dupla Sandy e Júnior. Agora só faltava o diretor arrumar isso em cena. É claro que o estudo estava apenas começando, reparem que criamos várias estórias para construir o nosso trabalho (em cima de uma estória já existente pegamos a própria estória do texto, fomos fazendo perguntas que a obra não respondia para construir o nosso espetáculo). José Eduardo dos Santos conduziu o trabalho com uma maestria impressionante, ele mesmo dizia que não era diretor, mas sim um provocador. Ah! Isso era verdade. O cara dizia que ator tem que ralar e não estava nem aí para as queixas ou reclamações, o Zé queria apenas trabalhar. Aprendi com ele a ter uma visão tridimensional dos meus espetáculos, (referente às três dimensões: comprimento, largura e altura.) Ele dizia que além dessas coisas eu precisava trabalhar a plástica dos meus trabalhos porque eu parecia mais um artesão da idade média e deixava passar de forma grosseira algumas rasuras, mas que eu precisava em alguns momentos ter uma visão panorâmica do trabalho. Então durante um ensaio que eu não estava em cena ele me levou para a técnica do Teatro Municipal de Cabo Frio. Ele queria mostrar onde ele estava errando e disse que se ele estivesse na primeira fileira talvez não fosse ver esses erros. Isso tem duplo sentido: ele também estava querendo dizer que às vezes precisamos nos distanciar e olhar para a obra como um simples expectador claro! Sem esquecer quem é você, qual a sua função principalmente eu que escrevo e acabo montando os meus próprios textos.
(ele queria que eu tirasse a impressão intimista dos meus espetáculos. Ele falava: às vezes, Ítalo, eu olho para os seus espetáculos e consigo ver você inserido no trabalho dos seus atores).

Eu acabei nesse espetáculo sendo a Xuxa, essa mesma, a rainha dos baixinhos. O espetáculo na grande verdade era um deboche e longe, muito longe de ser uma peça infantil.
NOS MOLDES TRADICIONAIS DOS CAÇA NIQUEIS QUE INVADEM CABO FRIO

Os pais levavam os seus filhos, e ficavam irritados. Ele se divertia muito com toda essa situação, ele não estava nem aí.

Continua na próxima semana!


* Ator, Diretor de Teatro e Dramaturgo
*

2 comentários:

Cleber Soares disse...

O que ouve com jose eduardo dos santos. Italo fala de uma forma saudocista. Eu estive fora de cabo frio durante muitos anos e conheci o jose eduardo dos santos

Norma evangelista disse...

EStou querendo saber o final desse diario de viagem