terça-feira, 15 de setembro de 2009

PÉS NO FÓRUM


* Por Rafael Peçanha


Hoje começam as reuniões dos oito segmentos culturais de Cabo Frio, definidos pela legislação do Conselho Municipal de Cultura, com o objetivo de eleger delegados e tirar indicativos para o Fórum Municipal de Cultura, que acontecerá nos dias 24 e 25 de setembro na Universidade Veiga de Almeida. De hoje até quinta-feira, agentes culturais da cidade estarão reunidos em noites que coroam um processo, cuja logomarca apresenta dois pés caminhando. Mas caminhando como? E para onde?

Depende. Há quem ache o solo muito acidentado, e prefira não caminhar, ou ainda, caminhar por outro solo mais confortável. De fato, a experiência do Fórum Municipal de Cultura não poderia ser um solo nivelado: é cheia de acidentes, erros, defeitos e inexperiências. A própria legislação usada por base – as leis municipais que instituem o Conselho – é incompleta, ao não abraçar a totalidade das representações culturais de uma cidade, uma boa tarefa para os nossos Vereadores. A dificuldade de estrutura e comunicação; a dinâmica às vezes enfadonha de inscrição, são características deste solo acidentado sobre o qual caminhamos. Mas os que se negam a caminhar sobre este solo (com todo o direito democrático que têm de fazê-lo) esquecem que seus passos ajudariam a nivelar este chão emburacado, para que as próximas gerações obtenham, com Fóruns evoluídos e melhores, os resultados deste momento que juntos construímos.

Há quem caminhe para trás. Não é uma caminhada errada, só que cansa mais e não leva a novos objetivos. Há momentos, porém, em que é necessário dar um passo para trás, a fim de dar dois para frente. O Fórum, de certa forma, tem desses momentos: é preciso lavar a roupa suja – às vezes extremamente encardida – entre os agentes culturais, para que novos caminhos, unidos e em direção ao futuro, possam ser traçados. Entretanto, a imagem dos pés deve ser a do bom cobrador de pênaltis: ele empreende passos para trás, para em seguida efetuar um chute perfeito, para frente, na direção do futuro: uma boa cobrança.

A cobrança, aliás, é um dos passos que deve ser dado. Um Fórum, democrático, que nasce das bases da sociedade, deve ter com principal característica a crítica propositiva, a fim de que a classe aponte ao Governo o que deseja como política pública de cultura. Por outro lado, em resposta, cabe ao Governo apresentar o que é possível fazer, econômica e legalmente, na direção dessas aspirações. Pode ser que esses dois passos não se encontrem; pode ser que um lado dê passos largos, e o outro, apenas pule no mesmo lugar. O fato é que, quem participar deste momento, poderá ao menos dizer que caminhou, enquanto os ausentes simplesmente descansavam.

Caminhemos: o Fórum está presente. Um processo que se desenvolve desde o dia 24 de junho, com a iniciativa do Projeto Cidade Viva da Folha dos Lagos. Uma caminhada que se desenha com diversas reuniões, amplamente divulgadas, públicas. Seus passos, discutidos por um Comitê Gestor ampliado para cerca de 40 entidades da sociedade civil, não pode ter outra característica, que não a democracia. E aos que criticam a Cultura, a Classe, a Política Cultural, e até o próprio Fórum, muita das vezes com boas razões, cabe lembrar que são os que mais precisam estar presentes, pois o Fórum é o caminho mais rápido, objetivo e coerente para efetivar todo tipo de reclamação e discordância sobre tais aspectos.

Não dá para criticar a estrada sem passar por ela. Os corajosos caminharão e reclamarão do solo, mas com pés calejados do andarilho. Aos críticos de gabinete, que pedem asfalto sem conhecer a realidade do chão batido, boas leituras e chás. Os guerreiros preferem pôr os pés no chão.


* Pós Graduando em Sociologia Urbana/UERJ

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